Olá!
Aqui é a Hellin, nutricionista da Prodiet e estou aqui para contar algumas novidades e conteúdos interessantes que acompanhei no 39º Congresso ESPEN, que aconteceu em Haia na Holanda.
A linda recepção teve muitas hortaliças espalhadas ao longo da entrada.
A necessidade da prevenção de doenças e da desnutrição foi assunto sempre presente e abordado através da importância da dieta saudável e equilibrada, qualidade de vida e atividade física. Mas para falar das apresentações é preciso destacar um tópico: Saúde muscular, proteínas e o processo do envelhecimento:
Atingir a recomendação proteica continua sendo um desafio: revisão sistemática sobre consumo de proteína em pacientes críticos demonstrou que em 72% dos estudos os pacientes não atingiram a recomendação proteica (1,2g a 1,5g/kg/ dia). Em idosos desnutridos hospitalizados, a média de estudo holandês foi de 0,62g/kg/dia, demonstrando a necessidade de refeições com maior quantidade de proteínas ou uso de suplementação proteica para evitar a perda de massa magra durante a hospitalização.
A sarcopenia foi associada independentemente a um aumento de custos hospitalares de cerca de €5.000 por paciente, em estudo holandês. Novamente destacando a proteína, intervenção com suplemento nutricional oral enriquecido com leucina em pacientes que sofreram AVC fez melhorar massa muscular e força nos pacientes sarcopênicos.
“Em idosos desnutridos hospitalizados,
a média de estudo holandês
foi de 0,62g/kg/dia”
E quanto maior a massa muscular menor é o custo hospitalar e também melhor a sobrevida dos pacientes. Estudo associou % de massa muscular com complicações e morte hospitalar, tendo o grupo com baixa massa muscular 45% de complicações e 23% de morte no hospital contra 15% e 4% respectivamente, no grupo com massa muscular normal (idosos com mais de 80 anos).
A importância da composição corporal foi discutida pelo fato do IMC não diferenciar componentes corporais e, desta forma, não deve ser utilizado como marcador clínico para decisões com o paciente. É importante destacar que um IMC menor que 30kg/m² não elimina a riscos metabólicos em decorrência do excesso de adiposidade e também que um IMC de pelo menos 30kg/m² não exclui baixa porcentagem de massa muscular, ou seja, a obesidade sarcopênica, observada principalmente em pacientes idosos, com câncer, críticos e com doenças crônicas. Neste contexto, um estudo holandês alerta que a caquexia do câncer é severamente sub-reconhecida na prática clínica em parte pelo alto IMC mascarar baixa massa muscular.
Foi exposto a recomendação mínima de 1,0g a 1,2g de ptn/kg/dia para idosos manterem a massa muscular e 1,4g/kg/dia para idosos frágeis ou com sarcopenia. A recomendação por refeição é de 25 a 30 gramas de proteína com 2,5g a 2,8g de leucina. Estudo destacando a suplementação de leucina demonstrou que esta aumentou síntese proteica miofibrilar em idosos, sendo igualmente eficaz naqueles com ingestão diária de proteína maior ou igual à RDA.
Como a saúde do idoso foi um dos focos do congresso, foi feito o apelo para que a ingestão nutricional seja sempre otimizada e que esta deve ser o padrão para a população idosa. Neste contexto, é interessante destacar estudo que demonstrou que o uso de suplemento nutricional oral não afeta o consumo das refeições, aumentando o aporte total da dieta.
Com o tema proteína muito forte no congresso também foi discutido o melhor momento de consumo da proteína no idoso. Devido achados de que a elevada proporção de proteína na manhã está associada com menor ingestão total de proteína no dia, levantou-se a questão de que uma maior concentração de proteína nas refeições da tarde e da noite pode ser mais interessante para o idoso.
O assunto proteína também foi discutida no paciente crítico e chamou atenção estudo britânico que apresentará em breve resultados da comparação entre nutrição enteral intermitente versus nutrição contínua no paciente crítico com perda de massa muscular. Os resultados são promissores para redução da perda de massa muscular no grupo com nutrição mais fisiológica, ou seja, a intermitente. Também foi abordado nesta apresentação o papel da alta ingestão proteica e da leucina em reverter resistência anabólica devido a incorporação de proteínas nos músculos.
É importante destacar que durante todo o congresso foi chamado a atenção para importância do nutricionista. Estudos da Dinamarca demonstraram que o aconselhamento nutricional como parte de uma equipe de nutrição especializada impediu a perda de peso não intencional em pacientes oncológicos durante período de tratamento ativo e efeito positivo no estado nutricional e funcional de pacientes idosos no acompanhamento domiciliar pós alta com a presença de nutricionistas. Outro estudo dinamarquês destacou a presença do nutricionista e associação com redução de custos relacionados à saúde.
“É importante destacar que durante todo o congresso foi chamado a atenção para importância do nutricionista”
A abordagem multidisciplinar ao paciente também teve bastante destaque no Congresso, inclusive sendo uma das recomendações que foram para votação na Conferência de Consenso sobre o Guideline ESPEN em Nutrição Clínica e Hidratação na Geriatria: as intervenções nutricionais no paciente idosos devem ser parte de uma abordagem multidisciplinar e multimodal para garantir ingestão dietética adequada, manter ou aumentar peso corporal e conseguir melhores resultados clínicos e funcionais.
Algumas das novas recomendações que seguiram para votação foram: a oferta de suplemento nutricional oral na alta hospitalar ao paciente idoso desnutrido ou em risco nutricional; a oferta de consulta nutricional individualizada nestes idosos; a oferta de no mínimo duas consultas com nutricionista a estes idosos e/ou cuidadores acompanhados por no mínimo 8 semanas e estas consultas devem ser combinadas com grupos de apoio.
Paciente Oncológico
A abordagem ao paciente oncológico foi muito completa, desde a importância do cuidado nutricional no momento do diagnóstico até abordagem no paciente pós cura.
O paciente oncológico pode passar por uma jornada de meses ou anos e enfrentará não só as alterações metabólicos causadas pelo próprio tumor, mas também pelas terapias anticâncer. Um paciente, por exemplo, já com perda de peso no momento do diagnóstico, pode receber orientações nutricionais, recuperar parte do peso, mas se começar uma quimioterapia ou radioterapia, pode apresentar nova perda de peso, até maior do que no início do tratamento. Este mesmo paciente pode recuperar parte do peso perdido, mas passando por uma cirurgia pode apresentar novamente perda de peso. Ou seja, o objetivo é sempre, recuperar ou manter o estado inicial adequado o mais cedo possível para evitar a progressão da caquexia. Na figura abaixo podemos visualizar esta discussão.
Apresentado por A. Laviano – 39th ESPEN 2017
Quanto mais tempo se leva para recuperar o peso, pior o prognóstico. Atingir as necessidades de calorias e proteínas são as chaves efeitos clínicos efetivos.
Neste contexto é relevante destacar que uma pesquisa europeia questionando pacientes oncológicos sobre a importância da nutrição demonstrou que 73% deles não conhecia o termo caquexia e 92% não recebeu nenhuma orientação dos profissionais sobre o tema. 70% responderam que perderam peso depois do diagnóstico de câncer. Em outra apresentação foi destacado que 70% dos pacientes oncológicos apresentam perda de massa muscular, sendo que 1 em cada 5 paciente morrem devido esta perda e desnutrição. Foi chamado a atenção que caquexia e nutrição precisam ser melhor discutidas na prática clínica.
Foi discutido também sobre o futuro dos pacientes sobreviventes de câncer, segue abaixo todos os aspectos físicos, emocionais, econômicos, sociais, que podem estar relacionados neste momento:
Em relação aos cuidados nestes pacientes sobreviventes revisão deste ano aponta a importância dos cuidados nesta fase, chamando atenção para qualidade da dieta, mantendo equilíbrio e manutenção de peso adequado.
Como exposto, evitar a perda de peso e recuperar o estado nutricional foram temas muito abordados em todo o congresso. A desnutrição acarreta: recuperação prolongada, tempo de internação aumentado, maior readmissão hospitalar, diminuição da qualidade de vida e aumento risco de morte, principalmente para públicos específicos de pacientes. É muito complexo ser um paciente e é nosso papel, como profissional de saúde, auxiliar nestas situações, da melhor forma possível.
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