Ao contrário de outras patologias alérgicas (asma, rinite, dermatite atópica, por exemplo), o controle da alergia alimentar não conta com a utilização de medicamentos preventivos e, em alguns casos, pode ser fatal. De acordo com a médica pediatra Vera Esteves Vagnozzi Rullo, presidente do Departamento de Alergia e Imunologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo, a imunoterapia oral consiste na administração de quantidades muito pequenas e controladas de um alérgeno por via oral capaz de induzir a dessensibilização. Em outras palavras, um paciente exposto diariamente a um determinado alérgeno alimentar precisará receber doses mais elevadas para desenvolver a mesma reação. Dessa forma, diminui as chances de reações alérgicas fatais em casos de ingestão acidental do alimento, explica.
Porém, existem riscos. Reações adversas são frequentes e acontecem em um número significante de pacientes, embora, na maioria das vezes, de fácil controle. Segundo uma revisão Cochrane (banco de dados com trabalhos científicos de grande importância) publicada em 2012, as reações podem variar de urticária ou prurido oral, dor abdominal importante, até rouquidão, edema de laringe, desconforto respiratório e hipotensão, cita a médica. Ainda de acordo com a pediatra, o tratamento deve ser realizado em ambiente hospitalar adequado e o médico deve ter experiência para conduzir a indução do aumento das doses e preparo para o controle das eventuais reações.
Pesquisas De acordo com Vera, mesmo havendo diversas linhas de pesquisa que objetivam a produção de imunoterapias específicas, incluindo a imunoterapia oral, para o tratamento das alergias alimentares, ainda não há quantidade suficiente de estudos multicêntricos randomizados e controlados para a indicação desse tratamento na prática clínica. Até o momento, a maioria dos estudos publicados mostrou resultados positivos o que torna este tratamento promissor para alergia alimentar, mas ainda são necessários protocolos padronizados e com análise de segurança para a sua indicação como opção terapêutica. Além disso, o sucesso desse tratamento está relacionado às mudanças imunológicas intrínsecas a cada paciente, avalia.
Um desses estudos foi publicado no New England Journal of Medicine em 2012. Duplo cego, randomizado e controlado por placebo, envolvendo 55 crianças (40 em imunoterapia oral e 15 placebo), mostrou que crianças alérgicas a ovo, que receberam imunoterapia oral, puderam consumir esse alimento sem apresentar sintomas 4 a 6 meses após a dieta da exclusão desse alimento.
Yeung JP, Kloda LA, McDevitt J, Ben-Shoshan M, Alizadehfar R.Oral immunotherapy for milk allergy. Cochrane Database Syst Ver 2012;11