Devido ao grande crescimento da obesidade nas últimas décadas, houve também um aumento nas cirurgias bariátricas e metabólicas realizadas para tratamento da obesidade com o objetivo de diminuir a morbi-mortalidade de longo prazo. O número de cirurgias bariátricas feitas no Brasil aumentou quase 90% nos últimos cinco anos e chegou a 72 mil em 2012, segundo o último censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
De acordo com o médico Rinaldo Danesi Pinto, especialista em cirurgia oncológica, hepato-pancreto-biliar, e bariátrica e metabólica, a cirurgia conhecida popularmente como redução do estômago, reúne técnicas com respaldo científico destinadas ao tratamento da obesidade e das doenças associadas ao excesso de gordura corporal ou agravadas por ele. O conceito metabólico foi incorporado há cerca de seis anos pela importância que a cirurgia adquiriu no tratamento de doenças causadas, agravadas ou cujo tratamento/controle é dificultado pelo excesso de peso ou facilitado pela perda de peso como o diabetes e a hipertensão , também chamadas de comorbidades, explica.
Segundo o médico, ??existem diversas técnicas disponíveis, mas as mais realizadas são a Gastrectomia vertical (Sleeve gastric) e o by-pass gástrico, seja em Y de Roux ou em Omega. Ambos os procedimentos são feitos preferencialmente por videolaparoscopia (Veja quadro). Em ambos os casos o paciente submetido à cirurgia perde de 40% a 45% do peso inicial e tem boa eficácia sobre o controle da hipertensão e de doenças dos lípides (colesterol e triglicérides). Os benefícios da cirurgia bariátrica e metabólica são perda de peso e remissão das doenças associadas à obesidade (como diabetes e hipertensão), diminuindo assim o risco de mortalidade, aumento da longevidade e melhoria na qualidade de vida. Os pacientes que irão se submeter a ela devem fazer uma avaliação de risco cirúrgico pré-operatório. A cirurgia só deve ser realizada se os riscos cirúrgicos forem o mínimo possível, de acordo com a literatura médica. A regra é básica: os benefícios devem sempre superar os riscos, alerta Rinaldo Danesi Pinto.
Além disso, antes de se submeter a qualquer um dos procedimentos, é necessário avaliar alguns pontos:
Índice de massa corpórea (IMC): IMC acima de 40 kg/m², independentemente da presença de comorbidades. IMC entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidades, ou seja, doenças agravadas pela obesidade, como hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo II, artropatias de quadril, coluna, joelho e tornozelo e as dislipidemias.
Idade: Abaixo de 16 anos: exceto em caso de síndrome genética, quando a indicação é unânime, o Consenso Bariátrico recomenda que, nessa faixa etária, os riscos sejam avaliados por cirurgião e equipe multidisciplinar. A operação deve ser consentida pela família ou responsável legal e estes devem acompanhar o paciente no período de recuperação. Entre 16 e 18 anos: sempre que houver indicação e consenso entre a família ou o responsável pelo paciente e a equipe multidisciplinar. Entre 18 e 65 anos: sem restrições quanto à idade. Acima de 65 anos: avaliação individual pela equipe multidisciplinar, considerando risco cirúrgico, presença de comorbidades, expectativa de vida e benefícios do emagrecimento.
Tempo da doença: Apresentar IMC e comorbidades em faixa de risco há pelo menos dois anos e ter realizado tratamentos convencionais prévios. Além disso, ter tido insucesso ou recidiva do aumento do peso, verificados por meio de dados colhidos do histórico clínico do paciente.
Preparando a cabeça – De acordo com a psicóloga Suleine Schwanke, da Clínica de Cirurgia do Aparelho Digestivo Vidar, todas as pessoas que desejam se submeter à cirurgia bariátrica devem passar por uma avaliação psicológica. Cada caso precisa ser analisado individualmente. No primeiro momento a motivação do candidato precisa ser avaliada. O desejo de fazer a cirurgia deve partir do próprio paciente. O pós-operatório vai exigir muitas mudanças no estilo de vida, e ele, antes da cirurgia, precisa efetivamente entender o que está pensando em fazer e o que está por vir. Sem entender o processo, o paciente não tem condições de avaliar e decidir o que acredita ser melhor para sua vida, avalia Suleine.
Segundo a psicóloga, algumas outras situações que precisam ser observadas não vetam a cirurgia, mas podem fazer com que tenha de ser postergada. Casos como depressão e/ou ansiedade graves, algumas situações familiares, por exemplo, devem primeiro ser acompanhadas e quando estabilizadas, aí sim, repensar a cirurgia, explica. Do ponto de vista psicológico a avaliação é muito importante, diz a profissional, mas o processo de preparação é fundamental para a boa adesão do paciente. Neste momento, por exemplo, o paciente é estimulado a conversar com quem já fez a cirurgia, pesquisar sobre as diversas técnicas cirúrgicas, os efeitos secundários, as fases da dieta após a cirurgia e sua retoma das atividades diárias.
De acordo com Suleine, um pequeno reganho de peso após a cirurgia é previsto para todos os pacientes. Porém, se for exagerado, o paciente corre o risco de voltar a engordar. A avaliação do peso e de outros fatores envolvidos no pós-cirúrgicos devem sempre ser acompanhados por uma equipe multiprofissional capacitada. A nutricionista, por exemplo, estará atenta ao peso, mas também a toda composição corporal deste paciente. É preciso ter clareza que a cirurgia não é garantia de que o paciente nunca mais será obeso. A adesão ao tratamento é fundamental para manutenção de um peso saudável, finaliza.