Com a publicação da primeira versão do genoma humano, em 2001, os cientistas ganharam um vasto material sobre o conteúdo genético e sua associação às doenças. Para a área da Nutrição, faltava descobrir boa parte das razões dos benefícios proporcionados pelos alimentos, cujos efeitos eram observados clinicamente, mas ainda sem maiores explicações fisiológicas. Com o avanço das metodologias de estudo da biologia molecular e do mapeamento de genes humanos (genoma) foi possível identificar interações entre genes e nutrientes, o que resultou no surgimento de duas áreas de pesquisa: a Nutrigenética e a Nutrigenômica.
De acordo com a nutricionista Graziela Ravacci, doutora em Ciências da Oncologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Pesquisadora Científica do Laboratório de Nutrição e Cirurgia Metabólica do Aparelho Digestivo da mesma instituição, a constituição genética de uma pessoa pode afetar a sua resposta a uma determinada dieta e, consequentemente, ajudar na prevenção ou até mesmo tratamento de doenças. O genoma humano possui o número estimado entre 30 mil e 35 mil genes, e a sequência do DNA apresenta similaridade de 99,9% entre os indivíduos. A diferença de 0,1% se deve a presença de polimorfismos, e são eles os responsáveis pela variabilidade individual de respostas a um nutriente, explica.
Segundo a profissional, os polimorfismos mais frequentes são os SNPs (Polimorfismos de nucleotídeos únicos), que podem ser definidos como alterações genéticas presentes em mais de 1% da população e localizadas em várias regiões do genoma. Os SNPs localizados na região promotora e codificadora de um gene tem maior probabilidade de modificar o funcionamento do gene, e consequentemente, a proteína formada. Eles podem influenciar processos como a digestão, absorção e metabolismo de nutrientes. Tal fato recebe o nome de Nutrigenética, relaciona. Ou seja, a Nutrigenética estuda os efeitos da variação genética, ou SNPs, na interação dieta-doença, o que inclui a identificação de genes relacionados com diferentes respostas aos nutrientes.
Doutora Graziela ainda comenta que um dos genes mais polimórficos é o MTHFR (metilenotetrahidrofolato redutase), que codifica uma enzima envolvida no metabolismo do ácido fólico. O polimorfismo nesse gene, conhecido como C677T, resulta na substituição do aminoácido alanina por valina, e tem sido associado com elevação da concentração plasmática de homocisteína, declínio dos níveis de folato plasmáticos, estando associados com aumento do risco para o desenvolvimento de câncer coloretal e mama. As pesquisas mais recentes que têm sido feitas no Laboratório de Nutrição e Cirurgia Metabólica do Aparelho Digestivo da FMUSP são sobre os efeitos dos ácidos graxos ômega-3, especialmente do DHA (Ácido-Docosa-Hexaenóico).
Saúde Para a nutricionista, existem duas importantes conclusões que podem ser retiradas do estudo da Nutrigenômica e da Nutrigenética. A primeira estuda como o nutriente pode alterar a expressão dos nossos genes. Por isso, seu conhecimento é importante para identificar quais nutrientes têm potencial beneficio à nossa saúde e, principalmente, na prevenção de doenças. Já a Nutrigenética, estuda como o nosso genoma responde a um nutriente, e isso inclui os SNPs. Tal fato nos proporciona o conhecimento de subgrupos que se beneficiam mais ou menos com um nutriente. Finalmente, caminhamos para uma nutrição cada vez mais individualizada, finaliza.