O uso de certos fármacos pode modificar a utilização de alguns nutrientes, com implicações clínicas tanto na eficácia terapêutica medicamentosa como na manutenção do estado nutricional. Por sua vez, os nutrientes são também capazes de interagir com fármacos, sendo um problema de grande relevância na prática clínica, podendo causar alterações nos efeitos farmacológicos ou na biotransformação do fármaco. Porém, de acordo com a nutricionista Cristina Martins, mestre em nutrição clínica pela New York University, doutora em Ciências Médicas nefrologia pela UFRS, coordenadora do setor de nutrição da Fundação Pró-renal Brasil e autora do livro Interações Fármaco x Nutrientes, é importante reconhecer que as interações farmaconutrientes são possibilidades. Não significa, necessariamente, que ocorrerão em todos os indivíduos; depende de vários fatores, como quantidade de fármaco e de alimento utilizada, uso de diversos fármacos, idade, sexo, estado clínico e físico do usuário, entre outros, explica.
E esta interação começa já na boca. Os fármacos podem alterar o fluxo salivar, causando boca seca, aumento de cáries, estomatite e glossite, alterando a digestão, principalmente de carboidratos. Porém, as interações mais prejudiciais estão no efeito do fármaco na absorção, no metabolismo e na excreção de nutrientes. Por outro lado, os alimentos podem aumentar ou reduzir/neutralizar a ação dos fármacos, avalia. Um exemplo deste último caso são alimentos ricos em cálcio que podem diminuir o efeito do antibiótico tetraciclina, cuja absorção também é prejudicada por uso de antiácidos (veja mais no quadro). Além disso, a presença de alimento no estômago pode diminuir a taxa e/ou a extensão da absorção do fármaco.
A nutricionista ainda lembra que há alimentos que interagem potencialmente com os medicamentos. Por sua vez, estes podem conter excipientes, substâncias que são adicionadas para dar forma, consistência, sabor, cor ou para agir como diluente. Os excipientes podem interagir com os nutrientes ou causar reações adversas, adverte. Alguns exemplos são a albumina, presente em alguns medicamentos; o álcool (etanol), usado como um solvente em preparações farmacêuticas; álcool benzílico, agente bacteriostático usado em soluções parenterais; amido, que vem do milho, trigo ou batata e é adicionado a medicamentos como excipiente, quelante ou diluente e são impróprios para pacientes com doença celíaca, que têm intolerância permanente ao glúten. A lista ainda inclui outras substâncias, como aspartame, cafeína, lactose, manitol (álcool do açúcar manose), óleo vegetal, oxalato, ácido fítico, sacarina, sorbitol, sulfitos, tartrazina, tiramina e outros agentes pressores.