A Doença de Crohn é uma doença inflamatória, crônica, que pode afetar todo o aparelho digestivo (da boca até o ânus), mas que com maior frequência afeta o intestino (podendo afetar tanto o intestino delgado como o cólon). De acordo com o médico gastroenterologista Sérgio Alexandre Liblik, professor-assistente do curso de Medicina da PUC/PR, ela faz parte de um grupo chamado de doenças inflamatórias intestinais juntamente com outra doença que pode ser muito parecida, chamada retocolite ulcerativa (que diferentemente do Crohn, só afeta o intestino).
Segundo o médico, a doença é considerada idiopática, ou seja, de causa ignorada, o que torna ainda mais difícil o diagnóstico. Porém, alguns fatores podem influenciar no seu aparecimento. De fato, predisposição genética e fatores ambientais já foram identificados e correlacionados com a doença. Contudo, não sabemos ainda como estes fatores disparam o seu início. Dados clínicos e experimentais atuais reforçam o papel da flora intestinal normal na iniciação e/ou na perpetuação da doença, explica.
Sintomas – Os sintomas são extremamente variados, pois além de afetar partes diferentes do aparelho digestivo, o quadro clínico depende muito da fase da doença na qual o paciente se encontra. O sintoma mais comum é sem dúvida a dor abdominal, geralmente em caráter de cólica, com maior frequência no quadrante inferior direito do abdômen, com febre, simulando um quadro de apendicite aguda. Aumento de distensão abdominal, borborigmos (ruídos intestinais) são bastante frequentes e inespecíficos, aponta.
Segundo Liblik, há febre em quadros agudos em até 50% dos casos e a diarreia costuma ser intensa e geralmente acompanha um quadro de perda de peso muito importante. Por fim, a forma de doença chamada perianal pode ser observada em 15 a 40% dos casos, causando uma série de complicações, como fístulas, abscessos, estenoses e plicomas (espessamento da pele perianal). Ainda, sintomas extraintestinais podem aparecer, como aftas, artrites, anemia e conjuntivites.
Diagnóstico – O diagnóstico requer a associação dos sintomas (uma boa história clínica), com a experiência clinica do médico. A partir disto, exames laboratoriais auxiliam no achado de inflamação e, inevitavelmente, exames de imagem do intestino serão necessários para a confirmação diagnóstica. A colonoscopia é o principal deles, mas eventualmente, podemos utilizar endoscopia por cápsula endoscópica ou enteroscopia e exames radiográficos (trânsito de delgado, enterotomografia e ressonância magnética). Na doença perineal, a ressonância magnética também tem espaço. Raramente, podem ser solicitados marcadores laboratoriais da doença como o ASCA, que confirmam a doença em alguns casos, avalia.
Formas da doença – A doença pode se apresentar em formas leves, moderadas ou graves e o tratamento é dependente desta apresentação inicial. Nas formas leves, explica o médico, o tratamento é ambulatorial, sendo importante a escolha da terapêutica mais apropriada, retirando-se a lactose e sacarose da dieta, além da tentativa de uma dieta hipoalergênica e com diminuição da fibra vegetal. Nas formas moderadas, pode ser necessária eventual internação e restrição alimentar com dietas líquidas ou pastosas. Já nas formas graves, o paciente deve ser atendido muitas vezes com cuidados intensivos, requerendo correção de complicações como anemia, hipotensão, distúrbios hidroeletrolíticos, podendo ser necessário o tratamento cirúrgico. Em todos os casos, deixar de fumar é essencial, alerta o gastroenterologista.
Dieta De acordo com o médico, não existe nenhum alimento ou substância que claramente desencadeie a doença. Logo, as dietas devem respeitar as intolerâncias individuais, sem restrições para evitar a desnutrição. Em alguns casos, aponta Liblik, principalmente em jovens e crianças em fase de crescimento, faz-se necessário o uso de nutrição oral específica para a doença, sendo que em casos graves pode haver indicação de nutrição parenteral total por um período.
Uso de nutrientes-chave O uso de glutamina, aminoácido fundamental para o metabolismo das células intestinais minimiza a atrofia provocada em casos de nutrição parenteral. Além disso, os probióticos são úteis como imunomoduladores e há espaço para seu uso coadjuvante em boa parte dos casos. Como os tratamentos medicamentos podem causar efeitos colaterais, o que pode ser parcialmente corrigido com antibióticos ou probióticos específicos, avalia.Por fim, Sérgio Liblik observa: A doença de Crohn é uma condição complexa e potencialmente letal; contudo, os avanços recentes no seu tratamento permitem controle e melhora de qualidade de vida em boa parte dos pacientes.