ASPEN deste ano aconteceu em Las Vegas, entre os dias 20 a 23 de abril. Contou com palestrantes e participantes de diferentes países para discussão da prática e últimas novidades de nutrição enteral e parenteral.
A Prodiet esteve presente para acompanhar as atualizações científicas e levar dois trabalhos, desenvolvidos em parceria com pesquisadores brasileiros:
- O uso de suplementação nutricional especializada em paciente dialítico praticante de atividade física
- Suplementação especializada aumenta os níveis de corpos cetônicos no sangue e melhora a cognição no comprometimento cognitivo leve: relato de caso
Com relação a programação do evento, podemos dizer que um dos grandes assuntos foi artigo publicado em janeiro deste ano, no importante periódico The Lancet, intitulado “Efeito da alta dose de proteína em pacientes críticos com alto risco nutricional: um estudo internacional, multicêntrico, pragmático, randomizado controlado”, chamado de EFFORT trial.
Por mais que as diretrizes, nacional e internacionais, recomendem doses de proteínas para pacientes críticos, estas recomendações, além de bem variadas, são baseadas em estudos muito heterogêneos, que levantam dúvidas quando avaliados em conjunto, e dificultam o consenso. O impacto de altas doses de proteína no paciente crítico continua incerto, com resultados variados. Desta forma, o objetivo deste estudo, foi testar a hipótese de que altas doses de proteína podem melhorar desfechos de pacientes críticos.
Oitenta e cinco unidades de terapia intensiva de 16 países participaram da pesquisa. Adultos de alto risco nutricional, em ventilação mecânica foram divididos em dois grupos: alta dose de proteína (≥2,2g/kg) e dose usual (≤1,2g/kg). No total, 1301 participantes foram incluídos na análise. O desfecho primário foi tempo para alta hospitalar com vida até 60 dias após a internação na UTI, e, o secundário, mortalidade em 60 dias. A dose atingida no grupo de alta proteína foi de 1,6g/kg enquanto no grupo dose usual, 0,9g/kg.
A comparação entre os grupos não demonstrou diferença nos desfechos primário e secundário, mas na análise de subgrupo, a alta dose de proteína pareceu prejudicial naqueles com insuficiência renal aguda e aqueles mais doentes, avaliados por meio de pontuação de disfunção orgânica, o SOFA (do inglês Sequential Organ Failure Assessment). O EFFORT trial foi apresentado em inúmeras mesas, levantando a questão de quais serão os próximos passos da prescrição proteica na UTI. Alguns pontos da metodologia do estudo devem ser levados em consideração, principalmente o fato da prescrição de proteína ter sido a mesma durante os 28 dias do período do estudo e o desconhecimento quanto a transição entre as fases da doença crítica.
É consenso que se deve iniciar a prescrição proteica em doses menores e evoluir gradativamente. De qualquer forma, o apelo nas mesas, é atenção na individualização da prescrição e o maior cuidado na prescrição daqueles com insuficiência renal aguda e naqueles mais doentes. Destaca-se também que a recuperação funcional não foi avaliada, a qual pode ser um desfecho impactado positivamente pelo alto consumo proteico. Vamos aguardar novos estudos, com novos desfechos e novas discussões!
Seguindo a temática proteína, uma outra mesa que podemos destacar do congresso é sobre “Por que músculos importam?”
Sabemos que a perda de massa e força muscular está altamente relacionada a mortalidade e que os idosos são os mais penalizados devido a resistência anabólica, que é dificuldade de utilizar a proteína da alimentação na síntese proteica. Por isso as recomendações são de ofertas proteicas maiores, principalmente se há presença de comorbidades e inflamação.
Como estratégia para atingir as metas proteicas destacou-se o papel dos suplementos. Um dos destaques da mesa foi a leucina, que é o único aminoácido ativo, ou seja, é especificadamente a leucina que ativa a síntese muscular, mesmo em condições catabólicas. A leucina pode ser obtida por meio de suplementos alimentares com boas fontes proteicas, além é claro, do papel dos exercícios físicos para uma boa saúde muscular!