Você sabia que a Anorexia Nervosa (AN) é a doença psiquiátrica que mais mata no mundo, com taxa de mortalidade que pode chegar a 8%? Ela acomete principalmente o sexo feminino, na proporção de 10-20 vezes mais em comparação com o masculino e se manifesta geralmente entre os 12 e 18 anos de idade. Nos últimos anos, a incidência vem aumentando muito na maioria dos países. Dados recentes sobre a incidência de AN são de 0,7% entre adolescentes, sendo que, no Brasil, ela acomete de 0,5 a 1% da população em geral.
As informações são da médica pediatra Lilian Lisboa, coordenadora da Unidade de Adolescentes do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), de Florianópolis – SC. Segundo ela, trata-se de uma doença caracterizada por um medo mórbido de engordar, tendo como consequência a redução voluntária e drástica da ingestão alimentar, com perda progressiva e intensamente desejada de peso, levando a graves quadros de magreza acentuada. A Anorexia Nervosa é uma séria condição psiquiátrica com consequências potencialmente fatais, alerta a médica.
De acordo com ela, não há uma única causa, mas acredita-se que haja características biológicas, psicológicas, familiares e socioculturais envolvidas no surgimento da doença. Há indícios de fatores genéticos envolvidos, pois ocorre uma maior incidência de AN entre irmãos e entre gêmeos, explica. Outros fatores que podem estar ligados são a busca pela perfeição, a grande preocupação em seguir um padrão de beleza estipulado como ideal e problemas de alimentação quando bebê ou na primeira infância. Por isso a importância das famílias adotarem hábitos alimentares saudáveis, servindo como modelo para os filhos. Isto ajuda muito na prevenção de transtornos alimentares, completa a médica.
Para Eliana Barbosa, nutricionista Clinica em Pediatria do Hospital Infantil Joana de Gusmão, mestre em Nutrição pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), assim como para a pediatra Lilian Lisboa, é imprescindível o atendimento por uma equipe multidisciplinar bem treinada em serviços especializados para o adequado manejo terapêutico desta condição clínica. Recomenda-se que a equipe seja composta por: médico clínico, psiquiatra, nutricionista, psicólogo e quando possível o enfermeiro e terapeuta educacional. A escolha do nível de atendimento e estratégias de tratamento pode evoluir no decorrer do tratamento, desde atendimentos ambulatoriais até a hospitalização, proporcionando a recuperação clínica e nutricional, além do equilíbrio emocional para lidar com o ambiente externo, explica Eliana.
Tratamento nutricional Segundo a nutricionista, geralmente, inicia-se por uma avaliação nutricional, com determinação do IMC atual e percentagem de perda de peso, bem como o estabelecimento de metas gradativas de ganho de peso para atingir o peso saudável. Na sequência, faz-se um recordatório dietético usual, com horários, tipos de alimentos e quantidades consumidas, para averiguar o hábito alimentar do paciente. A recomendação mais adequada e sensata é restabelecer o hábito alimentar saudável, respeitando-se as preferências alimentares, na medida do possível, com aumento gradativo das porções e número de refeições. É aconselhável que se estabeleçam seis refeições diárias, de modo que o paciente possa comer menores quantidades por vez. A pirâmide dos alimentos pode ser utilizada como um instrumento de educação para auxiliar o paciente em suas escolhas alimentares, destacando-se a importância dos nutrientes (e não só o valor energético) de cada alimento, aconselha Eliana.
Além disso, de acordo com a profissional, tanto para os pacientes internados ou ambulatoriais é importante estabelecer a pessoa responsável pela pesagem (preferencialmente o nutricionista), bem como observar e discutir as reações com seu ganho ou perda de peso, e aproveitar o momento para fazer novos acordos em relação à variação e quantidades das porções alimentares. Em casos mais difíceis, pode ser negociado com o paciente a pesagem de costas para que não saiba o peso. Posteriormente, conforme a evolução clínica, o peso poderá então ser compartilhado, sugere.
Terapia Nutricional Enteral e Parenteral em pacientes anoréxicos – Quando há recusa alimentar persistente ou ainda dificuldade de progredir o aumento de aporte energético, a terapia de nutrição enteral (TNE) é a primeira opção, utilizando preferencialmente o período noturno para administração da dieta por gotejamento com bomba de infusão, deixando o dia livre para estimular a dieta por via oral. É importante salientar que a dieta enteral deve ser iniciada com pequenos volumes e aumentar gradativamente conforme tolerância e ganho de peso. Ainda de acordo com a nutricionista, a TNE pode ser importante recurso na recuperação de peso em pacientes com AN e tem menores riscos do que a terapia nutricional parenteral (TNP), tanto em relação ao acesso da via, quanto a ocorrências de complicações associadas ao paciente desnutrido. Porém, a TNP não é indicada de forma usual em pacientes com AN. Entretanto, por recusa do paciente em utilizar a TNE ou mesmo frente a complicações que possam ocorrer com a utilização desta última, como estase gástrica e íleo paralítico, a TNP é indicada, finaliza Eliana.