A desidratação é caracterizada quando o corpo não tem tanto líquido dentro das células e vasos sanguíneos como deveria. Normalmente, as células do corpo humano recebem fluidos constantemente, por meio da ingestão dos alimentos e líquidos, e perde fluido por meio da micção, da sudorese e de outras funções corporais. Mas, quando o corpo perde mais fluido do que absorve, consequentemente, ocorre a desidratação. E esse quadro é muito mais sério do que se imagina, podendo levar até mesmo ao óbito.
Com o aumento da idade, o corpo perde sua capacidade de detectar a sede. Existem várias mudanças fisiológicas no processo de envelhecimento que podem afetar o equilíbrio hídrico nos idosos, colocando esta população em risco de desidratação. Além disso, os idosos possuem menos controle da micção, o que os fazem urinar mais vezes durante o dia. A desidratação é um processo silencioso, cujos sinais só aparecem quando a doença já em estágio crítico, ocasionando sintomas como: confusão mental abrupta, queda de pressão arterial, aumento dos batimentos cardíacos, angina (dor no peito) e coma.
Ao nascer, 90% do corpo do bebê são constituídos de água. Na adolescência, 70%. Na fase adulta, cai para 60%. Na terceira idade, que começa aos 60 anos, o corpo tem pouco mais de 50% de água, o que faz parte do processo natural de envelhecimento. Portanto, os idosos têm menor reserva hídrica. De acordo com Arnaldo Lichtenstein, médico clínico-geral do Hospital das Clínicas e professor colaborador do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP, em artigo publicado no site do canal de TV ESPN, mesmo desidratados, os idosos não sentem vontade de tomar água, pois os seus mecanismos de equilíbrio interno não funcionam muito bem.
“Nos idosos, os mecanismos que informam o cérebro que há pouca água no organismo são menos eficientes. A detecção de falta de água corporal e a percepção da sede ficam prejudicadas. Alguns, ainda, devido a certas doenças, como artrose, evitam movimentar-se até para ir tomar água. Conclusão: idosos desidratam-se facilmente não apenas porque possuem reserva hídrica menor, mas também porque percebem menos a falta de água em seu corpo. Além disso, para a desidratação ser grave, eles não precisam de grandes perdas, como diarreias, vômitos ou exposição intensa ao sol. Basta o dia estar quente ou a umidade do ar baixar muito que o quadro pode surgir”, explica Lichtenstein.
O médico alerta que, mesmo que o idoso seja saudável, a desidratação prejudica o desempenho das reações químicas e funções de todo o seu organismo. E ele faz duas recomendações, um aos idosos e outro aos familiares ou cuidadores: àqueles, beber, a cada duas horas, um copo de água, mesmo que não sinta sede. Já aos demais, oferecer constantemente líquidos aos idosos. “Ao perceberem que estão rejeitando líquidos e, de um dia para o outro, ficam confusos, irritadiços, fora do ar, muita atenção. É quase certo que esses sintomas sejam decorrentes de desidratação. Líquido neles e rápido para um serviço médico”, alerta o médico.
Maioria desidratada – Segundo as recomendações nutricionais do Institute of Medicine dos Estados Unidos em conjunto com a agência Health Canada, conhecidas como Dietary Reference Intakes (DRI), a ingestão diária de água deve ser no mínimo 30 ml por Kg de massa corporal em qualquer idade.
Porém, não é o que acontece. Diversos estudos apontam que o consumo de água pela população idosa é baixo comparado às recomendações. De acordo com um artigo de revisão da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, em Portugal, a desidratação é o distúrbio hidroeletrolítico mais comum nos idosos e uma das causas mais frequentes de internação entre os 65 e os 75 anos.
Problemas sociais – A publicação ainda aborda o papel dos cuidadores como um dos fatores de desidratação de idosos. Segundo ela, os pacientes disfágicos (que têm dificuldade de deglutição), uma vez que necessitam de líquidos espessados e de mais tempo dos cuidadores para consumir o volume necessário, são frequentemente negligenciados.
Além disso, devido ao crescente número de idosos em lares e ao reduzido número de cuidadores, muitas vezes as atividades com maior visibilidade, como a limpeza dos idosos e a sua alimentação, são priorizadas em detrimento das menos visíveis, como a hidratação. Assim, cuidados deficientes e a negligência por parte dos cuidadores surgem então em especial destaque.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 3,5 milhões de idosos octogenários no Brasil, e poderá chegar aos 19 milhões em 2060. O problema é a que velocidade de divulgação de informações de saúde preventiva não acompanha o mesmo ritmo e o risco de mortes por desidratação e suas complicações na terceira idade aumenta.
Para que esse quadro possa se reverter, é importante que a família ou o cuidador estimule a ingestão de água durante o decorrer do dia. Além disso, as equipes de saúde devem investir em programas educativos para prevenção de doenças nas diversas fases da vida, bem como orientações a respeito da ingestão adequada de água.