O Papilomavírus Humano, mais conhecido como HPV, é um vírus transmitido sexualmente. Estima-se que 80% da população mundial seja exposta ao vírus ao longo da vida sexual sem ocorrência de problemas associados. Apesar do alto índice de contaminação, contudo, uma minoria das pessoas poderá ter alguma doença relacionada a este vírus, o que inclui desde simples verrugas na região genital até doenças mais graves, sobretudo entre as mulheres, como o câncer de colo de útero.
No Brasil, o câncer do colo do útero é o segundo mais comum entre as mulheres, atrás apenas do câncer de mama. O ginecologista Fábio Russomano, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), alerta que o câncer só acomete mulheres que têm uma lesão precursora do câncer sem buscar diagnóstico e tratamento médico. Ainda assim, dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que 19.200 novos casos de câncer de colo uterino são diagnosticados anualmente, o que resulta em mais de quatro mil mortes todos os anos.
Para fazer o diagnóstico de possíveis lesões que não são vistas a olho nu pelo médico ginecologista, é necessário fazer o exame Papanicolau, também chamado de preventivo. De acordo com Russomano, a recomendação é de que toda mulher que tenha iniciado a vida sexual realize o exame a partir dos 25 anos e a cada três anos, após dois exames normais seguidos com intervalo de um ano. Essa periodicidade deve ser mantida até os 64 anos. Outros exames podem detectar a contaminação por HPV, mas Russomano indica que o preventivo é o mais simples e acessível, já que é disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O ginecologista adverte, ainda, que não existem tratamentos com eficácia comprovada para o combate ao HPV, embora seja possível amenizar seus efeitos. As verrugas genitais e as lesões causadas pela contaminação têm tratamentos simples e eficazes. Em alguns casos, a cauterização é suficiente, em outros, é necessário retirar a parte doente do colo do útero, o que muitas vezes pode ser feito sob anestesia local no próprio consultório, complementa.
Outra alternativa para prevenção do HPV é a vacinação. Duas vacinas são aprovadas no Brasil: a quadrivalente e a bivalente, ambas tomadas em três doses. Atualmente, as vacinas contra o HPV são disponibilizadas apenas em clínicas privadas de vacinação. Segundo o Dr. Fábio Russomano, estudos desenvolvidos sobre a efetividade das vacinas apontam que as mulheres que mais se beneficiam são aquelas que nunca tiveram contato com o HPV e tomaram todas as doses. Devido a isso, a Organização Mundial de Saúde indica que a vacina seja tomada por meninas entre 9 e 13 anos, pois estas provavelmente não iniciaram a vida sexual. Fora dessa faixa etária, a vacina deve ser prescrita por um médico, de acordo com o caso.
É importante lembrar que as mulheres que já iniciaram a atividade sexual e não foram vacinadas não estão desprotegidas do câncer do colo de útero. Por isso é realizado o exame preventivo, que é eficaz desde que respeitada a faixa etária e periodicidade recomendada, destaca o médico.
Políticas públicas
Segundo Russomano, o Governo Federal estuda maneiras de disponibilizar a vacina no Programa Brasileiro de Imunização. Hoje a distribuição é prejudicada devido ao alto custo do medicamento. Essas vacinas exigem uma complexa logística para distribuição e aplicação e somente haverá impacto na redução da incidência de câncer daqui a 30 ou 40 anos, quando as meninas atualmente vacinadas deixarão de apresentar essa doença, comenta.
No Brasil, há uma política que visa incorporar vacinas com transferência de tecnologia em fábricas nacionais, para diminuir o custo e reduzir a dependência externa. Porém, há outras vacinas consideradas prioritárias que aguardam incorporação. Não é a maior preocupação porque, no caso da prevenção do câncer de colo de útero, há opções, como o exame preventivo. É nele que o programa brasileiro tem direcionado seus esforços, investindo na tecnologia das quais já dispomos e é ofertada no SUS.