Estudos indicam que metade da população com mais de 65 anos sofre com a perda de massa muscular; Condição fica ainda mais grave se associada à desnutrição
A fragilidade física é uma condição clínica que acomete idosos a partir dos 65 anos, devido a uma série de fatores, na maioria das vezes, decorrentes do processo de envelhecimento. O estado que antecede a fragilidade física é denominado pré-fragilidade, e atinge cerca de 50% da população de idosos, principalmente do sexo feminino.
De acordo com a fisioterapeuta Anna Raquel Silveira Gomes, professora doutora do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o profissional de saúde deve estar atento para alguns sintomas frequentemente relatados por idosos com fragilidade, como:
- Perda de peso involuntária no último ano (igual ou maior a 5%);
- Sensação de cansaço e fadiga para realizar atividades diárias;
- Baixo nível de atividade física;
- Dificuldade de caminhar e sensação de fraqueza.
“Indivíduos com mais de 70 anos são mais suscetíveis à fragilidade física e o diagnóstico precoce é fundamental para reversão do quadro”, adverte.
Segundo a fisioterapeuta, exercícios físicos são essenciais para promover o aumento da massa e força muscular de idosos, devendo incluir diferentes modalidades, como treinamento de força muscular e de equilíbrio.
“A prescrição deve ser feita por um profissional capacitado, fisioterapeuta ou educador físico, e deve respeitar as características individuais de cada paciente. No geral, recomenda-se que o treino de força muscular seja realizado pelo menos de duas a três vezes por semana, incluindo exercícios que englobem maiores grupos musculares. Além disso, o número de séries e repetições, bem como a carga do exercício, deve ser aumentado progressivamente de acordo com a capacidade física do idoso”, ensina.
Já o treinamento de equilíbrio, complementa Anna, também deve ser realizado de duas a três vezes por semana, com duração de 20 a 30 minutos cada, e envolver diversas habilidades motoras, tais como equilíbrio, agilidade, coordenação e marcha. “A complexidade dos exercícios deve ir aumentando aos poucos, passando de ações mais simples, como ficar na ponta dos pés apoiado em uma cadeira, até conseguir permanecer em uma superfície instável, como uma espuma, e/ou apoiado em apenas uma perna”, exemplifica.
Os benefícios decorrentes dos exercícios físicos devem iniciar a partir do terceiro mês, segundo Anna, e, portanto, a sua regularidade é muito importante.
E a alimentação?
Idosos em geral apresentam risco elevado de apresentar desequilíbrio nutricional por diversos fatores, como explica a nutricionista Simone Biesek, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFPR. “Alguns fatores de risco nutricional no idoso estão relacionados à atividade física reduzida, ingestão alimentar excessiva, baixa ingestão proteica (carnes, leite, ovos), interação entre medicamentos e nutrientes, pouco conhecimento sobre alimentos, alteração sensorial, depressão, isolamento social, dentição e saúde bucais deficientes”, comenta. Ambos – sobrepeso ou baixo peso – são considerados como risco nutricional para essa população.
“Alguns estudos indicam que, dentre os idosos frágeis, 45 a 65% apresentam quadro de desnutrição. Esta condição somada à fragilidade pode resultar em sarcopenia, caracterizada por perda de força e de massa muscular acompanhada por redução no desempenho físico”, adverte Simone.
Contraditoriamente, explica a nutricionista, idosos frágeis podem apresentar peso normal ou sobrepeso, além de acúmulo de gordura abdominal. A obesidade é considerada uma causa importante de incapacidade física e de complicações e também se associa à fragilidade.
Na opinião de Simone, para se obter melhores benefícios do exercício físico, recomenda-se que o indivíduo siga uma dieta alimentar rica em proteínas. “A avaliação e acompanhamento nutricional destes pacientes são de extrema importância, pois permitem identificar maiores complicações. Além disso, é por meio da avaliação nutricional que o profissional nutricionista avalia a necessidade do uso de suplementos”, acrescenta, enfatizando que reposição de vitamina D, suplementação de calorias e proteínas e a prática de exercícios físicos são algumas das medidas para o tratamento da fragilidade física do idoso.
É necessário suplementar?
Conforme explica a nutricionista, no caso específico da fragilidade física em idosos associada à perda de massa muscular, tem sido evidenciada a necessidade de aumentar o consumo de proteínas na dieta, para reduzir a perda muscular. “Porém, na prática, observa-se que idosos tendem a reduzir o consumo de alimentos proteicos (carnes, leites, ovos) por diferentes razões, entre elas, a dificuldade de mastigação ou mesmo a redução no interesse por esses alimentos. Nesses casos, a indicação do suplemento de proteínas pode ser vantajosa, e a quantidade que será prescrita dependerá da ingestão alimentar de cada um”, destaca.
Antes de indicar um suplemento, pondera Simone, é necessário avaliar a condição de saúde do paciente. “Algumas doenças, por exemplo, podem aumentar o gasto energético do indivíduo, podendo ser uma importante indicação de suplementação. Por outro lado, dependendo da doença, existe indicação de redução ou aumento de algum nutriente específico, por isso é fundamental avaliar que tipo de suplemento deve ser indicado”, finaliza.
Somando forças
A fisioterapeuta e professora do Departamento de Prevenção e Reabilitação em Fisioterapia, Audrin Said Vojciechowski, também doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da UFPR, destaca a importância do trabalho em equipe multidisciplinar.
“Cada profissional vai focar na sua área de conhecimento. Quando associamos vários profissionais, podemos traçar um plano de recuperação mais adequado. Por exemplo, em um idoso com perda de massa muscular, o nutricionista irá avaliar a alimentação desse indivíduo e buscar repor os nutrientes que estão deficientes na dieta, enquanto o educador físico e/ou fisioterapeuta irá planejar os exercícios mais adequados para recuperação e ganho de massa muscular. Se essa combinação não for realizada, o paciente pode não atingir uma recuperação adequada”, adverte.
Estudo
Com tamanha importância na manutenção de uma vida saudável para os idosos, o tema tem sido objeto de estudo de profissionais de diversas áreas. Um deles está sendo realizado em Curitiba, no Hospital de Clínicas, e faz parte da pesquisa de três doutorandos (dois fisioterapeutas e uma nutricionista) do Programa de Educação Física da UFPR.
Com o título “Efeitos de um programa de treinamento físico com jogos virtuais e suplementação proteica na função musculoesquelética e risco de quedas em idosas pré-frágeis”, o objetivo do estudo é avaliar se o treinamento físico com jogos virtuais associado ao uso de suplemento proteico é capaz de auxiliar no ganho de massa e função muscular, reduzindo o quadro de fragilidade e incapacidade física de idosos.
Conforme explica a orientadora do estudo, a professora doutora Anna Raquel Silveira Gomes, os participantes foram divididos em dois grupos.
“Ambos fizeram uso de um suplemento proteico fornecido pela empresa Prodiet. Um deles realizou exercícios físicos associado ao suplemento proteico e o outro grupo fez uso do suplemento proteico sem realizar exercícios físicos. No momento, estamos analisando os resultados. Mas a uma conclusão já se pode chegar: a parceria entre universidades e empresas privadas é fundamental para o avanço da pesquisa em nosso país”, conclui.
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