Nutricionista do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC) alerta sobre a importância da Terapia Nutricional em pacientes oncológicos
Dia 4 de fevereiro é o Dia Mundial do Câncer. Data que entidades médicas alertam para ampliação de campanhas para o diagnóstico precoce da doença e que a população não negligencie os sintomas. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) divulgadas na última sexta-feira (2) apontam a ocorrência de 582.590 casos novos de câncer no Brasil em 2018, sendo 282.450 em mulheres e 300.140 em homens. O estudo abrange o biênio 2018-2019 e, o tipo de câncer mais incidente em ambos os sexos, será o de pele não melanoma, com cerca de 165 mil novos casos.
Depois, os dez tipos mais incidentes no Brasil serão próstata, mama feminina, cólon e reto, pulmão estômago, colo do útero, cavidade oral, sistema nervoso central, leucemias e esôfago. Divulgadas a cada dois anos, as estimativas são as principais ferramentas de planejamento e gestão pública no País na área oncológica, orientando ações de prevenção, detecção precoce e oferta de tratamento.
A doença, que é a segunda causa de morte no mundo, resulta, na maioria das vezes, em queda significativa na qualidade da alimentação, ingestão alimentar inadequada e, consequentemente, em desnutrição. De acordo com a nutricionista Thais de Campos Cardenas, coordenadora administrativa da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), as causas que levam o paciente oncológico a não conseguir se alimentar ou comer menos são complexas e multifatoriais.
“As causas vão desde alterações características da doença no sistema nervoso central, efeitos colaterais do tratamento e da própria doença (ulcerações na boca, boca seca, falta de dentição, obstrução intestinal, má absorção, intestino preso, diarreia, enjoos constantes, vômitos, redução da motilidade intestinal, alteração do paladar, dor, entre outros), até mesmo o aumento do gasto de energia e do metabolismo em função do tumor e do tratamento”, explica Thais.
Segundo a nutricionista do IBCC, a falta de aporte energético adequado resulta na maior preocupação de médicos e nutricionistas em pacientes oncológicos: a caquexia, ou perda muscular. “Ela prejudica gravemente a qualidade de vida, impactando de forma negativa na função física e na tolerância ao tratamento. A perda de músculo esquelético, mesmo que não haja perda de gordura, prediz, inclusive, complicações pós-operatórias, toxicidade à quimioterapia e mortalidade”, alerta.
Terapia Nutricional (TN) – A TN objetiva manter ou melhorar a ingestão alimentar e evitar problemas causados pela falta de aporte de energia e proteína, reduzindo os riscos de interrupção do tratamento e melhorando qualidade de vida do paciente. Segundo Thais, de acordo com os consensos da Sociedade Europeia de Terapia Nutricional Parenteral e Enteral (ESPEN), em sua publicação de 2017, e do Brasileiro de Nutrição Oncológica do Instituto Nacional do Câncer (INCA), da última publicação em 2015, há claras recomendações de intervenção nutricional para aumentar o consumo oral de pacientes com câncer que até conseguem comer, mas não o suficiente. “As intervenções incluem aconselhamento dado pelo nutricionista e oferta de complemento nutricional, sempre preferindo hipercalóricos e hiperproteicos. Além disso, se a nutrição via oral permanecer inadequada mesmo após uso de suplemento nutricional, a via enteral é indicada – por meio de sonda ou gastrostomia, dependendo do caso”, ressalta.
Indicações – Com relação a medicamentos, a nutricionista coordenadora do IBCC afirma que existem muitos estudos com drogas anabolizantes ou antiinflamatórias e aminoácidos para aumentar massa livre de gordura e melhorar o apetite. “Porém, em virtude de poucas comprovações e muitos efeitos colaterais, além de ausência de estudos robustos que nos embasem nas decisões, ainda não é consenso a indicação.”
Radioterapia – A profissional explica que, durante este tipo de tratamento, uma especial atenção deve ser dada aos pacientes com indicação de irradiação nas regiões da cabeça e pescoço, tórax e trato gastrintestinal. “Nosso objetivo ao longo do tratamento é, no mínimo, manter a ingestão oral para evitar as interrupções do tratamento. Se há previsão de mucosite grave ou tumores obstrutivos, há indicação de uso de sonda ou gastrostomia antes da piora os sintomas e impedimento de oferta alimentar. Mesmo que o paciente use uma sonda durante a radioterapia, é importante que a deglutição seja mantida”, alerta.
Realidade brasileira – Segundo a nutricionista, não há um bom encaminhamento para o tratamento nutricional nos hospitais brasileiros. “Devemos, por exemplo, triar mais de 80% dos nossos pacientes assim que são admitidos no hospital, pelo menos, tentando avaliar a massa muscular. Quase a totalidade dos pacientes em risco nutricional deveriam receber algum tipo de Terapia Nutricional para melhorar o consumo calórico e proteico. O ideal era ter o hábito de reavaliar, em intervalos de 1 a 4 semanas, nossos pacientes, implantando protocolos para recuperação operatória de doentes oncológicos. Não deveríamos permitir que mais de 20% dos pacientes em quimioterapia consumissem menos de 80% daquilo que precisam do ponto de vista de energia”, alerta Thais.
*Thais de Campos Cardenas é nutricionista formada pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Nutrição Humana Aplicada pela mesma instituição, membro da Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN) e coordenadora administrativa da Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC).
Tabela Periódica – Os nutricionistas da Prodiet criaram a Tabela Periódica de alimentos que auxiliam no tratamento oncológico. Ela é composta por 77 alimentos e as suas respectivas informações nutricionais. Além disso, são colocados em destaque 6 alimentos que são nutricionalmente ricos. Clique aqui e faça o download gratuito.