A alimentação é um ato que vai além de suprir as necessidades de sobrevivência. Na nossa sociedade, por exemplo, alimentar-se faz parte de momentos de união da família e dos amigos, portanto, uma ação que gera bem-estar e prazer que vai além da nutrição fisiológica. Assim também deve acontecer com as mulheres durante a gestação. A relação com a comida, além de benéfica para o corpo da mãe e do bebê, deve ser alinhada com a mudança emocional que o momento traz. “É necessário sempre ter empatia. A relação com a comida tem que sempre ser benéfica, e uma avaliação nutricional individualizada é imprescindível para que mãe e bebê consigam uma gestação saudável”, avalia a nutricionista materno-infantil Camila da Silva Pereira.
Porém, como aborda Murray W. Enkin em seu livro “Guia para Atenção Efetiva na Gravidez e no Parto”, é necessário tomar um cuidado extra ao orientar a gestante sobre uma dieta adequada. “Os esforços para incentivar as mulheres a se alimentarem bem durante a gravidez, embora bem-intencionados, frequentemente incluem afirmações explícitas de que as mulheres podem reduzir riscos obstétricos, como parto pré-termo, através da atenção à sua dieta e outros pontos de seu estilo de vida. Essas afirmações podem causar culpa, ansiedade e um falso sentimento de responsabilidade por resultados indesejados na gestação.”
Nutrição por trimestre – A gestação engloba uma série de pequenos e contínuos ajustes fisiológicos, que afetam o metabolismo de todos os nutrientes. Estes ajustes são individuais, dependentes do estado nutricional pré-gestacional, de determinantes genéticos, do tamanho fetal e do estilo de vida da mãe. Assim, lembra Camila, todos os nutrientes são essenciais. “Por isso, a variedade deve ser priorizada. Os nove meses exigem uma alimentação equilibrada, com todos os grupos alimentares, o que não significa ‘comer por dois’. Mas, em determinados períodos, o consumo de certos nutrientes deve ser reforçado”, explica.
Além disso, lembra a nutricionista, evitar comidas industrializadas e dar preferências a frutas, legumes, verduras e tubérculos é uma das indicações às grávidas. “O mais benéfico é sempre consumir os nutrientes através dos alimentos. Porém, sabemos que alguns deles estão com os nutrientes comprometidos, devido aos solos, uso de agrotóxicos etc. Magnésio, ferro e Vitamina D, por exemplo, podem precisar de suplementação artificial”, orienta Camila.
Confira os principais nutrientes a serem consumidos em todas as fases da gestação, de acordo com a nutricionista materno-infantil Camila da Silva Pereira:
Primeiro trimestre:
- Acido fólico, que deve estar suplementado de preferência antes da gestação por ser essencial pra formação do bebê.
- Vitaminas do complexo B: Algumas ajudam nos temidos enjoos.
- Ferro: Previne anemia e intercorrências com o bebê. Encontrado em carne vermelha, fígado, vegetais de folhas verdes, legumes, leguminosas e cereais fortificados.
Segundo trimestre:
- O ômega 3 começa a ter papel fundamental na formação sensorial e cognitiva do bebê.
- Magnésio: é um dos minerais que mais faltam nas gestantes. Sua carência pode causar fadiga e cãibras, muitas vezes consideradas normais na gestação.
Terceiro Trimestre:
- Niacina (Vit. B3) e Colina (riquíssima no ovo, também do complexo B), importantes para formação cerebral
- Vitamina A – essencial para o desenvolvimento ósseo do bebê
Além disso, sempre existe aquela dúvida sobre qual a variação de peso ideal da mãe na gravidez. De acordo com Camila, o indicado pelos órgãos de saúde é de 11 a 16 quilos para gestantes com peso anterior à gestação considerado adequado. Sobre o aumento necessário de calorias, a nutricionista explica que, para que a gestação transcorra normalmente, há um aumento metabólico de cerca de 300 calorias a partir do segundo trimestre. “Mas a preocupação deve ser mais com os nutrientes e menos com as calorias”, avalia.
Desnutrição e obesidade – Segundo a nutricionista, os dois geram danos à mãe e ao bebê, maior risco de prematuridade e doenças futuras, além de complicações no parto. “A obesidade está diretamente relacionada a pré-eclampsia/eclampsia que é uma das maiores causas de mortes maternas no Brasil. Já a desnutrição materna, entre outros problemas, aumenta em 30% a chance do nascimento de um bebê abaixo do peso”, informa. Ainda de acordo com a profissional, quando após uma avaliação nutricional percebe-se que não estão sendo alcançadas as necessidades calóricas e nutricionais, e não há como manejar na alimentação, médico e nutricionista devem alinhar juntos uma suplementação.
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*Camila da Silva Pereira é formada em Nutrição, pós-graduada em Nutrição Funcional e Fitoterapia pela PUC-PR e pós-graduada em Nutrição em Pediatria pelo Instituto de Pesquisas Ensino e Gestão em Saúde (IPGS). Também é sócia-proprietária da Clínica Nutrir Saúde Materno Infantil