Figura sempre presente no imaginário tradicional sobre cirurgia, o jejum pré-cirúrgico cada vez mais é posto em xeque: será que ele mais atrapalha do que ajuda? Entre os benefícios da redução do tempo sem comida e bebida imposto aos pacientes está a diminuição de complicações pós-operatórias, dias de internação e custos hospitalares.
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Para entender melhor esse assunto, conversamos com o médico e doutor em Gastroenterologia Cirúrgica, José Eduardo de Aguilar Siqueira do Nascimento. Confira a entrevista.
- Você poderia se apresentar, contando um pouco da sua formação e experiência?
Sou médico formado pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), com residência em Cirurgia e Gastroenterologia Cirúrgica, mestrado e doutorado na mesma instituição. Também fiz pós-doutorado na University of Wisconsin, nos Estados Unidos.
Atualmente, sou professor titular aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e diretor do curso de Medicina do Centro Universitário de Várzea Grande (UNIVAG), além de membro titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões e do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva.
Já ocupei os cargos de presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN), da International Association for Surgical Metabolism and Nutrition (IASMEN) e fui criador do Projeto ACERTO, programa multimodal de cuidados perioperatórios.
- Qual a importância e cuidados a serem tomados no período pré-operatório? Qual o impacto da alimentação nessa fase?
Dentro do Projeto ACERTO vemos janelas de oportunidade para acelerar o pós-operatório entre a marcação da cirurgia eletiva, no consultório médico, até o dia da cirurgia em si. Acredito que essa janela de oportunidade deva ser ocupada com prescrições baseadas em evidências e com o objetivo de diminuir complicações pós-operatórias, dias de internação, custos hospitalares e acelerar, em suma, a trajetória de recuperação do paciente.
Dentre essas medidas, pode-se citar: informação pré-operatória, pré-habilitação, terapia nutricional pré-operatória e a abreviação do jejum conforme protocolos modernos de jejum pré-operatório. O impacto disso tudo é a aceleração da recuperação pós-operatória em muitos tipos de cirurgia. Há uma enorme gama de dados nacionais e internacionais mostrando consistentemente isso.
- Nos últimos anos, ocorreram transformações nas recomendações médicas para a alimentação no período pré-operatório. Quais você destacaria e quais os fatores para essas mudanças?
O jejum pré-operatório tradicional consistia em deixar o paciente sem qualquer tipo de alimento ou bebida, ou seja, em jejum completo por no mínimo 6 a 8 horas antes da anestesia. O racional dessa conduta era o de evitar aspiração de alimentos para a via respiratória.
Porém, a partir dos anos 1980, vários experimentos mostraram que líquidos e bebidas clarificadas saíam do estômago rapidamente. Começou-se então a construir a ideia de manter o jejum de 6 a 8 horas para alimentos sólidos mas permitir bebidas clarificadas até 2 horas antes da cirurgia.
Hoje praticamente todas as Sociedades de Anestesiologistas têm essa conduta, incluindo a Brasileira (SBA). Os fatores que levaram a essa mudança foi um melhor entendimento de medicina perioperatória.
O jejum prolongado leva a muitos inconvenientes como uma maior resistência insulínica, maior inflamação pós-operatória, maior fraqueza e sensação de mal estar incluindo náuseas, sede e fome.
Em adição a isso, os estudos mostram que o jejum tradicional real quando mensurado não é de 6 a 8 horas, e sim de 14 a 18 horas, o que é não recomendável metabolicamente para um organismo a ser operado. Isso tudo reduz a recuperação do paciente. Fazendo uma analogia, é como correr uma maratona em jejum de 12 horas ou mais.
- Quais são hoje as melhores práticas de alimentação para esse período e por quê?
Nesse período recomenda-se um jejum de alimentos sólidos de 6 a 8 horas e permite-se a ingestão de líquidos clarificados até 2 horas antes da operação, salvo se o paciente apresentar obstrução no tubo digestivo, gastroparesia ou em cirurgia de urgência.
Os recentes guidelines da Sociedade Brasileira de Anestesiologia discutem isso muito bem. Uma bebida contendo maltodextrina a 12,5%, no volume de 200 ml a 400 ml deve ser ingerida aproximadamente 2 horas antes da operação e se possível, na noite anterior. Isso diminuirá a resposta metabólica ao jejum, impedindo assim a glicogenólise e início da neoglicogênese.
Isso também manterá normal o metabolismo de carboidratos, impedindo um início precoce de resistência insulínica induzida pelo jejum prolongado. Como resultado disso, pacientes que fazem essa rotina recomendada pelo projeto ACERTO recuperam-se mais rapidamente do que os que se submetem ao jejum prolongado no pré-operatório.
- Em quais outros aspectos a alimentação tem influência na cirurgia?
No projeto ACERTO exploramos também a janela de oportunidade do pós-operatório precoce. Isso porque a realimentação no pós-operatório precoce em vários tipos de cirurgia não só é segura como também acelera a recuperação do paciente.
Estudos randomizados e meta-análises mostram que essa conduta diminui complicações pós-operatórias e encurta o tempo de internação, favorecendo o paciente e os custos hospitalares.
Por outro lado, manter o paciente em jejum significa prescrever soro intravenoso para ele. Essa conduta pode aumentar muito a oferta de fluidos intravenosos e retardar a recuperação intestinal (prolongamento do íleo adinâmico), impedir realimentação precoce e atrasar a recuperação.
Em cirurgias de grande porte, também está indicado uma terapia nutricional precoce pós-operatória seja por via oral com suplementos, seja por via enteral com dietas industriais.
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